not your honey pie

por rafaela venturim

1 de janeiro de 2020



Cais do Sodré, Lisboa, Portugal. 01 de janeiro de 2020, 17h32min.

Para ler ao som de: Daylight - Taylor Swift (caso queira)

Olá, você. Não que eu ache que tenha alguém aí, mas, por via das dúvidas, prefiro sempre cumprimentar. Como é que você está? Tem algum tempo que eu não escrevo aqui. Não que o último texto tenha sido aquele de 2017, vieram alguns outros depois, mas eu achei por bem deixar só aquele mesmo como tendo sido o último. Os outros viraram rascunhos, mesmo que o significado disso não seja inteiramente verdade. 

Em 2017, escrevi um texto apaixonada. Aconteceram muitas coisas depois daquele texto. Mas não me arrependo dele, assim como não me arrependo de nada do que veio depois. "Não sê tão ingrata, não esquece quem te amou". Em 2019 eu resolvi o mal entendido dos meus sentimentos, coloquei-me no eixo novamente. Penei bastante, chorei menos do que outrora, entendi o gosto amargo que existe na melancolia de querer mandar uma mensagem e não ver mais motivos para fazer isso. Acostumei-me em estar só e conheci na solidão a beleza de ser exatamente quem eu sou: sem retoques, sem pudor, simplesmente  o movimento mecânico do ar entrando e saindo dos meus pulmões. Justamente por isso, foi um ano solitário, um ano em que eu e meus fones de ouvido demos longas caminhadas por Lisboa, ano de ser turista todos os dias nessa cidade que me acolheu e que virou casa.

Casa é um conceito abstrato. Visitei o Brasil em agosto e constatei que casa é mesmo onde eu estou. Em casa, sentia saudade de cá. Cá, sinto saudade de lá. Bué saudade, pá! Saudade, por sua vez, não é um conceito abstrato. É tão concreto que pesa o peito. Às vezes, o peso parece que vai me arrastar pra baixo, de modo que eu compreendi que casa é onde estou, saudade é o que eu sinto e que o que eu sou é uma mistura bem preparada de tudo isso, junto com a confusão de não saber se estou fazendo o que é certo. Volta e meia me pego perguntando a mim mesma se é aqui mesmo que devo estar, se é aqui que conhecerei as pessoas que preciso conhecer e de que (e quem) estou abrindo mão ao escolher este caminho. Toda escolha é uma renúncia, mas, na certeza de que jamais saberei ao certo, nos meus melhores dias eu só deixo nas mãos de Deus e foco que tudo o que eu tenho é um punhado de saudade, um bocado de angústia e um tantão de presente. Estou e sou, hoje, presente. Por ora, isso deve bastar. As respostas se materializarão com o tempo, e eu realmente acredito que tudo o que eu estou buscando também está buscando por mim.

Nas minhas andanças pelo mundo, conforme os dias se passam, tenho percebido que é fácil deixar a vida se tornar banal. Uma coisinha bonita aqui, um sorriso acolá, rostos e lugares que passam e eu por vezes nem noto. Sinto um desespero ao parar pra pensar a respeito, porque desde pequena fui dessas que se encanta com o canto dos passarinhos pela manhã e vê nisso um sinal de que o dia vai ser bom, de que a vida é boa e de que vale a pena permanecer por aqui. Se existe algo que 2019 me ensinou, parando agora para refletir, é que Vinicius estava errado, não é melhor ser alegre que ser triste. Ao menos, não necessariamente. É melhor ser alegre ou estar triste vez ou outra do que não sentir coisa alguma. Portanto, uma das minhas resoluções para este novo ano é sentir mais e sentir tudo, o bom e o ruim, na esperança honesta de que o bom seja predominante — porque eu preciso, porque eu quero, porque eu acredito que estou preparada para ele.

Há uma passagem em Before Sunrise, um dos filmes que mais marcaram a minha vida, em que uma cartomante diz à Celine: "Você tem estado numa jornada e você é uma estranha neste lugar. Você é uma aventureira, uma descobridora. Uma aventureira na sua mente. Você se interessa pelo poder feminino e pela enorme força e criatividade femininas. Você está se tornando essa mulher. Você precisa se resignar à estranheza da vida — somente quando encontrar paz em si mesma, conseguirá verdadeiramente se conectar com os outros." A minha paz eu construí, a duras penas. Deixo para lá e bem distante toda e qualquer opinião que tenham sobre mim, a boa e a ruim, porque o que importa é que eu goste de mim. Pois bem, eu gosto de mim, eu sei de mim e eu sou questão minha. Eu vivo todos os dias o que eu preciso viver para me tornar cada vez mais quem eu sou. Eu autorizo que a vida me encante novamente e eu permito que ela me mostre aonde isso vai me levar no final.

Vida, 2020: surpreendam-me. Confio em vocês.

A gente vai se falando.

Até já!


I wanna be defined by the things that I love
Not the things I hate 
Not the things that I'm afraid of 
Or the things that haunt me in the middle of the night,
I just think that — 
You are what you love

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